O procurador-geral da República, Augusto Aras, determinou a apuração das declarações dadas no Flow Podcast pelo apresentador Bruno Aiub, conhecido como Monark, de que deveria haver um “partido nazista reconhecido pela lei”, além da frase “se um cara quisesse ser antijudeu, eu acho que ele tinha o direito de ser”.
O deputado federal Kim Kataguiri (Podemos-SP) também será alvo da apuração da PGR.
Ele disse no programa que foi ao ar na segunda-feira (07/02), em resposta a um questionamento da outra participante dessa edição do podcast, a deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP), que a Alemanha errou ao criminalizar o nazismo.
O coletivo Judeus e Judias pela Democracia São Paulo havia entrado na tarde desta terça (08/02) com um pedido para que a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), o Ministério Público Estadual de São Paulo (MPSP) e a Procuradoria-Geral da República investigassem se houve crimes de apologia ao nazismo, incitação à violência, injúria racial e intolerância religiosa.
As declarações tiveram forte reação nas redes sociais. Monark divulgou um vídeo em que disse que estava “bêbado” durante sua participação no programa e falou que sua fala foi tirada de contexto.
Após a repercussão do caso, os Estúdios Flow divulgaram uma nota afirmando que Monark “está desligado” da empresa e que o episódio em questão será retirado do ar. A nota não informou mais detalhes sobre como se deu o desligamento — Monark é sócio-administrador dos Estúdios Flow.
“Pedimos desculpas à comunidade judaica em especial e a todas as pessoas, bem como repudiamos todo e qualquer tipo de posicionamento que possa ferir, ignorar ou questionar a existência de alguém ou de uma sociedade”, também diz a nota dos Estúdios Flow.
Kataguiri emitiu um comunicado sobre a decisão de Aras dizendo que vai “colaborar com as investigações pois meu discurso foi absolutamente antinazista, não há nada de criminoso em defender que o nazismo seja repudiado com veemência no campo ideológico para que as atrocidades que conhecemos nunca sejam cometidas novamente”.
Reações
O Flow é um dos podcasts mais populares do país. Começou em 2018 e tem, só no YouTube, quase 3,7 milhões de inscritos. Tem como outro apresentador Igor Coelho, conhecido como Igor 3K.
Em outubro do ano passado, ao falar de racismo, Monark postou que “é a ação que faz o crime e não a opinião”. A empresa iFood anunciou a retirada de seu patrocínio ao programa. O apresentador disse após as críticas que “muita gente interpretou minha defesa a liberdade de expressão como a defesa de opiniões hediondas como racismo ou homofobia” e que considera essas expressões “abomináveis”.
Também como reação às declarações de Monark, a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) anunciou o rompimento do contrato com o Estúdios Flow, que transmitia jogos do Campeonato Carioca de 2022.
A Flash Benefícios, patrocinadora do programa, declarou que foi solicitado “o encerramento formal e imediato de nossa relação contratual com os Estúdios Flow” diante de “comentários inadmissíveis”.
André Vereta-Nahoum, integrante do grupo Judeus e Judias pela Democracia São Paulo e professor do departamento de sociologia da USP, diz que nos últimos anos “a sensação que nós temos é que em nome de uma suposta liberdade de expressão algumas pessoas têm sido bastante francas em relação a judeus, judias, aos LGBTs, aos romani [ciganos], a todas as populações que foram as vítimas do Terceiro Reich [regime nazista]. Ficamos um pouco assustados”.
“Existe uma grande movimentação de episódios e de posicionamentos individuais e coletivos antissemitas. É a minha sensação, de que há uma maior preocupação. Esse assunto [antissemitismo] está mais visível”, afirma Vereta-Nahoum.
A Confederação Israelita do Brasil (Conib) divulgou nota em que “condena de forma veemente a defesa da existência de um partido nazista no Brasil e o ‘direito de ser antijudeu’, feita pelo apresentador Monark, do Flow Podcast.
O nazismo prega a supremacia racial e o extermínio de grupos que considera ‘inferiores’. Sob a liderança de Hitler, o nazismo comandou uma máquina de extermínio no coração da Europa que matou 6 milhões de judeus inocentes e também homossexuais, ciganos e outras minorias. O discurso de ódio e a defesa do discurso de ódio trazem consequências terríveis para a humanidade, e o nazismo é sua maior evidência histórica”.
A Federação Israelita do Estado de São Paulo também expressou seu repúdio às falas de Monark dizendo que reitera “nosso compromisso em combater ideias que coloquem em risco qualquer minoria. Manifestações como essa evidenciam o grau de descomprometimento do youtuber com a democracia e os direitos humanos”.
Inacreditável que isso ocorra em pleno 2022!
Fonte: BBC News
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