Uma âncora de um telejornal chinês criada com utilização de Inteligência Artificial é prova de que, no jornalismo, essa possibilidade parece estar cada vez mais próxima.
A robô, chamada Ren Xiaorong, reúne as características de mil apresentadores para formar suas habilidades e promete se manter no ar 24 horas por dia, nos 365 dias do ano. Funcionando até o momento exclusivamente a partir de roteiros pré-estabelecidos, a âncora virtual está sendo utilizada para divulgar no programa People’s Daily as notícias oficiais do Partido Comunista Chinês, que governa o país desde 1949. Além de relatar os acontecimentos do dia, ela também responde a questões dos telespectadores. “Para que essa tecnologia consiga ficar dias inteiros recitando notícias novas e absorvendo novos trejeitos, por exemplo, seria necessário reprogramá-la com uma frequência que exigiria um orçamento de bilhões e um trabalho incansável dos programadores, o que torna inviável que isso aconteça”, explica Fernando Osório, professor e membro do Centro de Inteligência Artificial da USP.
Com traços muito realistas, o avatar se parece com uma repórter humana. Mas apesar das semelhanças físicas e trejeitos, ele é incapaz de substituir um ser humano, como explica o professor de telejornalismo da USP Luis Santoro. “Qualquer pessoa ou máquina consegue ler um teleprompter ou um roteiro. O diferencial está na criatividade, na ousadia e na habilidade de checar fatos, algo que as pessoas têm e os robôs, não”. Essa ideia de apresentar um telejornal por meio de inteligência artificial não é novidade na Ásia: em 2018, o Japão já havia criado a robô Érica, que existia fora das telas e se movia de maneira mecânica. Dois anos e muitos avanços nos estudos da área depois, a Coréia do Sul surgiu com um programa apresentado por duas versões da jornalista Kim Ju-ha. Ambas, uma humana e outra digital, interagiam de forma extremamente realista. “Robôs já são capazes de atuar, desde a captação de notícias da internet até a apresentação delas. Utilizam outras formas de Inteligência Artificial para até mesmo desenvolver os roteiros, como as semelhantes ao ChatGTP”, afirma o especialista em tecnologia. No Brasil, Osório afirma que ainda não há máquinas capazes de realizar tarefa semelhante. Por isso, tranquiliza os jornalistas nacionais de carne e osso: “A ferramenta não é capaz de criar nada, apenas combinar o que já existe. Os disruptivos ainda são os humanos. Não chegamos nesse ponto de concorrência”, conclui
Fonte: Isto é
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