O que Lady Gaga me lembrou sobre comunicação - por Ruy Jobim
- Ruy Jobim
- 5 de mai.
- 2 min de leitura

Ainda estou tentando organizar o turbilhão de sensações que vivi em Copacabana no sábado, 3 de maio. O que vi ali foi um acontecimento raro, desses que embaralham a gente por dentro. Lady Gaga fez história. Um show para mais de dois milhões de pessoas. Um mar humano em silêncio, arrepio, canto e grito.
Mas para mim, que sou do rádio, que vivo de contar histórias e ouvir vozes — não foi apenas um show. Foi uma lembrança viva do que é, de fato, comunicar.
Sou locutor. De microfone ligado e coração aberto. Apresentei shows ao longo da vida. Subi em palcos grandes, pequenos, em lonas, em teatros lotados, em eventos em que só tinha eu e o operador de som. Já vi artistas entrarem e saírem do palco sem dizer uma palavra. E vi também o que acontece quando alguém se comunica de verdade com o público. E é isso que me emociona até hoje.
Lady Gaga, com toda fama, estrutura, equipe e coreografia, me tocou por algo que não estava no roteiro. Ela se entregou à multidão. Olhou pra gente com respeito. Falou com verdade. Ouviu os aplausos como quem precisa deles — e não como quem está acostumada a recebê-los.
Ali, no meio daquele espetáculo grandioso, havia algo raro: presença genuína. Ela nos viu. E nós a vimos. E nesse instante, tudo virou rádio: intimidade, emoção, voz que chega sem pedir licença.
Me vi voltando no tempo, lembrando dos meus primeiros programas ao vivo, da respiração antes de dizer “boa noite”, do cuidado com cada palavra dita no ar. Porque o rádio me ensinou que comunicar não é falar bonito — é falar com verdade.
Na Escola de Rádio, onde ensino e aprendo todos os dias, costumo dizer aos meus alunos: "Você pode ter o melhor equipamento, a melhor dicção, o melhor roteiro. Mas se não tiver alma, você não comunica. Você só informa".
E Gaga, naquela noite, nos comunicou. Não só com músicas, mas com pausas. Com olhares. Com o gesto de estar ali, inteira, disponível, humana.
Aquele momento me lembrou por que eu faço o que faço. Por que, mesmo depois de décadas de carreira, meu olho ainda brilha quando vejo alguém se comunicar bem — não porque estudou cada vírgula, mas porque está presente no que diz.
Lady Gaga me lembrou que o que move a comunicação é a escuta, o afeto, o risco de improvisar com o coração aberto. É isso que tento passar todos os dias pra quem vai apresentar um jornal, um programa de rádio, um podcast ou um show no palco de uma praça, sei lá.
Porque no fim das contas, comunicar é amar o outro a ponto de querer alcançá-lo. E pra isso, não tem fórmula. Tem entrega.
Obrigado, Stefani Joanne Angelina Germanotta por me lembrar disso. E por me fazer sair daquele show com a certeza de que, mesmo depois de tantos palcos, eu ainda tenho muito a dizer e aprender. Ruy Jobim
Que delicadeza de texto . Obrigado.Irretocavel.